segunda-feira, 18 de junho de 2012


tantas outras coisas, a mudança só é difícil quando não sabemos o que fazer.
Nosso segundo objetivo é apresentar exemplos de vários tipos de intervenção que
podem ser usados para resolver problemas e tornar possível uma vida mais satisfatória.
Algumas dessas intervenções nem sequer existiam um ano antes da publicação deste
livro, e quando ele for publicado muitos outros métodos terão sido desenvolvidos.
Nosso terceiro objetivo é oferecer uma nova compreensão a respeito de como
funciona nossa mente e demonstrar como essa informação pode ser usada para orientar
nosso pensamento e tornar nossa vida mais agradável e satisfatória — e provavelmente
mais longa.
STEVE E CONNIRAE ANDREAS
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COMO ELIMINAR O MEDO 
DE FALAR EM PÚBLICO

Joan era assessora de campanha de um deputado estadual. Parte do seu trabalho
consistia em falar em público para grupos de pessoas. Mesmo sendo capaz de fazê-lo,
ela sentia um profundo desconforto. Quando chegava a sua vez de falar, ficava tensa,
sentia um aperto na garganta e sua voz subia de tom. Ela dizia sentir-se "desligada" das
pessoas para quem falava. Entretanto, gostava de conversar com pequenos grupos após
a conferência. "Nesse momento, sinto-me ligada a elas como pessoas, e fica mais fácil
me comunicar. Gosto muito desta parte do meu trabalho."
Como o pensamento de Joan criou o medo de falar em público
Quando perguntei a Joan se sabia como criava sua tensão e seu desconforto, ela
respondeu que não. Já que a informação de que eu precisava era "inconsciente", pedi-lhe
que se visse de novo na situação problemática para ver o que podia descobrir.
"Pense em uma das situações em que o problema ocorreu e veja-se
antes
de se
levantar para tomar a palavra. Veja o que via então, sinta a cadeira em que está sentada
e ouça os sons ao seu redor. Faça um sinal quando tiver conseguido..."1
Quando ela deu o sinal, continuei: "Agora, veja-se levantando e caminhando para
o local de onde falará. Ao fazer isso, observe o que cria a tensão..."
Ela tentou, e pude observar que seus ombros se ergueram e seu tórax ficou tenso.
Quando começou a falar, sua voz ficou mais alta e aguda e pude verificar que estava
revivendo a situação problemática. Ao comentar a experiência, Joan descreveu sua
sensação de tensão e desconforto detalhadamente, porém ainda sem saber como a tinha
criado. Ela precisava de mais ajuda.
"Feche os olhos e volte à situação de estar diante de um público. Ao ficar de pé,
observe o que poderia estar dizendo a si mesma, ou imagens que poderia estar criando
internamente. (...) Tente olhar para o grupo e observe se há algo incomum nos olhos ou
nos rostos das pessoas." Como já havia trabalhado com o medo de falar em público
anteriormente, sei que geralmente ele aparece porque a pessoa pensa que está sendo
observada, julgada ou rejeitada pelo público, o que se torna mais claro quando
observamos os olhos ou o rosto das pessoas na platéia.
                                                           1
 As reticências são usadas para indicar pausa.
1
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Alguns minutos depois, Joan mexeu levemente o corpo e disse: "Os olhos
parecem de desenho animado! Todos esses olhos vazios estão me olhando sem
expressão!"
Se nos imaginarmos no lugar de Joan, olhando para pessoas que têm olhos de
desenho animado, é fácil perceber por que ela ficava tensa e "desligada" do grupo!
Agora que sabia como ela criava o problema, o próximo passo era criar a solução.
Como criar uma sensação de conforto
"De pé diante do público, olhe através dos olhos sem expressão e veja os
verdadeiros olhos
das pessoas que ali se encontram. Comece com uma pessoa e, quando
puder enxergar seus olhos, passe para outro rosto. Continue olhando direto nos olhos
das pessoas, seguindo seu próprio ritmo, e diga-me que mudanças percebe em si
própria..."
Assim que começou, seus ombros e seu tórax ficaram mais relaxados, e ela
começou a sorrir. Meio minuto depois, falou com uma voz próxima à sua voz normal:
"Sinto-me melhor agora. Posso ver as pessoas e sinto-me mais relaxada. Mas ainda
estou desligada delas".
Quando lhe perguntei como criava essa sensação de desligamento que ainda
restava, ela disse vagarosa e pensativamente: "Acho que tem a ver com o fato de estar
fisicamente acima delas. Mesmo não estando no tablado, continuo de pé, enquanto as
pessoas estão sentadas, de forma que continuo acima delas. Não gosto de olhar de cima
para baixo. Não existe contato direto com os olhos".
Já que nas situações vindouras ela continuaria de pé, ficando mais alta do que a
platéia, eu precisava encontrar uma maneira de fazê-la sentir que, mesmo havendo uma
diferença de altura, estava olhando diretamente para as pessoas. Um primeiro passo
seria convencê-la de que isso era possível.
"Joan, já esteve em uma palestra na qual sentisse que o orador estava falando
diretamente para você, como se só houvesse vocês dois, mesmo ele estando falando de
cima do tablado?"
Joan pensou e respondeu: "Sim, já estive".
"Ótimo, então sabe que isso
é possível.
Quero que feche os olhos e lembre-se
dessa palestra. Observe o que o orador fazia para estabelecer uma relação pessoal com
você, mesmo estando mais alto."
Algum tempo depois,, Joan abriu os olhos, sorriu e disse: "Ele olhava o público e
sorria, e algumas pessoas sorriam de volta. (...) Sempre que falo em público, fico
apavorada e meu rosto fica tão tenso e rígido, que é difícil sorrir".
"Muito bem. Agora que já se sente mais à vontade diante de um grande público,
fica mais fácil sorrir, não acha? Vamos experimentar. Feche os olhos e imagine-se
preparando-se para falar em público. Antes de começar, tente sorrir para as pessoas e
observe quem sorri também. Algumas pessoas sorrirão, outras não. De qualquer forma,
este será o primeiro passo da sua interação com o grupo."
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Alguns minutos depois Joan deu um amplo sorriso e disse: "Funciona. Algumas
pessoas sorriram de volta e isto me fez sentir-me ligada a elas. Como pode ser tão
simples?" O importante não foi fazer Joan sorrir, mas descobrir o que a faria sentir a
ligação pessoal que desejava.
Esta sessão durou cerca de quinze minutos. Algumas semanas depois, Joan
contou-nos que nas últimas palestras se sentira mais à vontade, relaxada e ligada ao
público.
Outras maneiras de sentir medo de falar em público
Poucas pessoas criam um medo de falar em público da mesma forma que Joan,
mas todas fazem algo
internamente
que cria o desconforto. Algumas imaginam que não
conseguirão falar. Outras receiam que o público comece a reclamar e vá embora. Outras
ainda lembram-se de uma ocasião em que se sentiram humilhadas por terem preparado
mal uma palestra.
Assim que se compreende como
essa
pessoa cria o problema, sua reação sempre
terá sentido. Nossas reações não são aleatórias; são simples conseqüências do
funcionamento de nossas mentes. Pouco importa o que cada um de nós faz para criar um
problema. Assim que a pessoa descubra o que faz, poderá adotar uma atitude mais útil.
No caso de Joan, mudamos diretamente alguns elementos da sua experiência
interna. Pode-se obter o mesmo resultado observando o que a pessoa pressupõe e
usando intervenções verbais para mudar a forma como ela pensa, como no exemplo a
seguir.
O medo de falar em público de Betty
Betty também queria vencer seu medo de falar em público. "Quero me sentir à
vontade durante uma palestra ou um seminário", foi o que pediu.
"O que a impede de se sentir automaticamente à vontade durante uma palestra?",
perguntei.
"É que as pessoas sabem mais do que eu."
"Elas sabem mais do que você?" repeti. "Como pode saber tanto, a ponto de saber
disso?", perguntei com um sorriso. Aqui, tentei usar o raciocínio de Betty para fazê-la
reconhecer que sua queixa resulta vá do
seu
conhecimento, e não do conhecimento dos
outros. Mas a experiência de Betty não se modificou.
"Não sei", respondeu.
"Então você
imagina
que elas sabem mais do que você", eu disse. Agora Betty
estava diante de um problema interessante. Ou aceitava que sabia o suficiente para saber
o que os outros estavam pensando ou admitia que não conhecia a extensão do
conhecimento dos outros. Em qualquer uma das possibilidades, sua pressuposição de
que os outros sabem mais do que ela passa a ser um pouco menos verdadeira.
"Isso mesmo. E tudo já foi dito e apresentado antes", disse Betty.
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"Então você é essa pessoa que, se fosse um escritor, nada escreveria, porque todas
as palavras do nosso idioma já foram usadas?" Essa pergunta metafórica leva a sua
afirmação a um extremo, dentro de um contexto que a torna francamente absurda.
"Isso mesmo", disse Betty com um sorriso, sem levar a sério o que eu havia dito.
"É mesmo? Bem, então o que a leva a preparar uma palestra, se tudo já foi dito
antes e todo mundo sabe mais do que você? Por que se dar ao trabalho?" Neste ponto,
passei a explorar a contradição aparente entre sua motivação para preparar a palestra e
sua pressuposição de que "tudo já foi feito antes", não havendo, portanto, razão de se
dar ao trabalho.
"É uma boa pergunta", disse Betty pensativamente. "Acho que estou percebendo
que posso dizer algo à minha maneira, e que as pessoas podem descobrir uma
perspectiva diferente, mesmo de algo que já foi dito antes."
"Então você se dá conta de que às vezes enxergar algo de outro ponto de vista
suscita uma boa reação por parte do ouvinte. Agora que sabe disso, existe alguma outra
coisa que a faça querer preparar uma palestra?"
"Quando estou apaixonada pelo assunto, isso pouco importa, porque quando tenho
essa paixão e essa convicção interior..."
"O que pouco importa?"
"Que as pessoas saibam mais do que eu e que tudo já tenha sido dito antes. Porque
neste caso tenho prazer e sinto-me à vontade."
Betty passara a ter consciência de como
seria
caso não tivesse medo de falar em
público, mas ainda não estava vivenciando a mudança. Ela me dizia como as coisas
aconteceriam,
não como elas
são,
por isso eu sabia que tinha de ir adiante.
"Acho bom o que disse. Agora, quando pensa em um público em especial, o que
acha que eles sabem
menos
do que você?" Betty geralmente só pensava naquilo que os
outros sabiam e que ela não sabia. Minha pergunta levava-a a refletir sobre a situação
oposta — quando ela sabe mais do que o seu público — para tornar seu pensamento
menos rígido.
Betty pensou por uns instantes. "Eles sabem
tudo
mais do que eu." E riu, sem
acreditar muito no que estava dizendo.
"TUDO?", brinquei. "Veja bem, já que consegue imaginar tão bem aquilo que
outros sabem mais do que você, deve conseguir imaginar ocasiões em que você sabe
mais do que eles".
"Tudo bem", ela disse, mais séria. "Tenho uma resposta. (...) O que descobri é que
muita gente sabe menos sobre sua vida, em termos do seu valor pessoal, sua auto-estima
e seu autoconceito." Sua voz era hesitante, ela não parecia estar completamente
convencida do que dizia.
"Então essa seria uma área sobre a qual sabe mais do que muitas outras pessoas.
Notei uma certa hesitação no que disse. (...) Não sei se você se dá conta de que, para
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cada pessoa, há sempre áreas em que ela sabe mais do que os outros, da mesma forma
que existem áreas em que os outros sabem mais do que ela..."
Estava fazendo poucos progressos na tentativa de tornar menos rígida a sua forma
de pensar em termos de "tudo-ou-nada". Então decidi-me por outra abordagem. "Queria
lhe perguntar outra coisa. Você acha que as pessoas que freqüentam o seu grupo seriam
tão estúpidas a ponto de escolher uma palestra na qual não aprenderiam nada de novo?"
Em vez de tentar mudar a crença de Betty de que todos sabem mais do que ela, passei a
usar
essa crença para anular o seu medo de falar em público.
Betty riu, e percebi nela uma profunda mudança fisiológica. Seu rosto ganhou
cores e seus músculos ficaram mais relaxados e flexíveis — calma, apesar de atenta.
Esse tipo de modificação fisiológica geralmente é um bom indício de que houve uma
profunda mudança de atitude — ao contrário do que acontece quando há apenas uma
compreensão intelectual. "Tem razão! Obrigada. Obrigada mesmo. Isso faz sentido",
declarou com confiança e satisfação. "Agora estou convencida."
Essa rápida conversa como Betty, que durou cerca de dez minutos, deu-lhe uma
nova maneira de pensar a respeito das suas palestras. É importante reconhecer que essa
conversa não tinha como objetivo
convencer
ou
aconselhar
Betty sobre o que estava
fazendo de errado e como deveria pensar. Pude entrar dentro do seu mundo interior e
mostrar-lhe um caminho em que as suas
próprias
lógica e crenças indicaram-lhe a
solução.
A firme crença de Betty de que "os outros são mais inteligentes" deu-lhe uma base
para mudar a sua maneira de pensar a respeito de uma palestra. Já que os outros são tão
inteligentes, eles
têm
de possuir a capacidade de saber se vão aprender algo de novo
com Betty, e assim ela pode sentir-se mais à vontade a respeito de suas palestras!
Isso nos mostra uma forma de adotar um ponto de vista alternativo, que leva
alguém a pensar sobre sua vida de uma maneira que a faça sentir-se automaticamente
bem e com recursos. Após essa rápida intervenção, Betty sentiu-se diferente a respeito
das suas palestras — mais entusiasmada e confiante, ao invés de desconfortável e
ambivalente. Não precisou fazer um esforço para ter esses sentimentos positivos — eles
passaram a estar à sua disposição de forma tão automática quanto sua reação anterior de
desconforto.
Também quero observar que a nova perspectiva que ofereci a Betty não foi uma
"falsa confiança" que a tornaria cega para suas deficiências. Se tivesse feito Betty sentir-
se confiante, quaisquer que fossem os participantes do grupo, ela teria aprendido a
ignorar as informações e reações das pessoas.
Em vez disso, a perspectiva que lhe ofereci é a que adoto quando estou ensinando.
Parto do princípio de que
todo mundo
da sala sabe mais do que eu a respeito de alguma
coisa. Algumas pessoas, em algum momento, saberão até mais do que eu sobre o que
estou ensinando. Isso é inevitável, e também é uma oportunidade para que eu possa
aprender com elas, o que beneficiará outras pessoas quando eu der outro seminário.
Entretanto, também confio na inteligência das pessoas para saberem se querem ou não
aprender comigo. Posso ter confiança no julgamento das pessoas que decidiram que
querem aprender algo comigo e por isso participam dos meus seminários.
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Uma das surpresas que aguardam as pessoas que, como nós, decidiram entrar no
campo do aprendizado, usando e desenvolvendo a PNL, é que as mudanças pessoais são
geralmente rápidas, como no caso de Betty. Isso não significa que todo mundo possa
mudar completamente em dez minutos. Às vezes, levamos muito mais tempo apenas
para reunir as informações necessárias. Embora no caso de Betty uma única mudança
tenha sido suficiente, outras vezes são necessárias duas, cinco ou até mesmo vinte
mudanças de crença e perspectiva para se chegar à mudança total desejada.
A PNL oferece muitas maneiras de descobrir como o nosso pensamento cria
limitações e muitas formas de se chegar às soluções. Se a primeira solução não der
certo, conseguimos perceber isso e passar a outra solução possível.
As palavras não têm energia alguma, a não ser que criem ou façam surgir uma
imagem. A palavra em si mesma nada possui. Uma das coisas das quais sempre me
lembro é: "Quais as palavras que fazem surgir imagens nas pessoas?" Então, as
pessoas seguem o sentimento criado pela imagem.
VIRGÍNIA SATIR
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COMO SER MAIS
INDEPENDENTE NOS
RELACIONAMENTOS


Ann e Bob estão casados há sete anos. Apesar de viverem bem juntos, vieram nos
consultar por causa de um problema irritante que existia desde que se conheceram.
Segundo Bob, Ann sentia-se muito insegura quanto ao relacionamento e precisava que
Bob lhe dissesse que a amava de oito a dez vezes por dia. Se ele não o fizesse, Ann
começava a lhe perguntar se a amava e não ficava satisfeita enquanto ele não o dissesse,
com um tom de voz caloroso e suave.
Bob achava isso irritante e, de certa forma, uma falta de respeito. Ele demonstrava
o seu amor de várias maneiras e a tocava de maneira carinhosa muitas vezes por dia. Se
brigavam por alguma coisa, Ann passava a ter certeza de que Bob não a amava e,
durante os dias que se seguiam ao desentendimento, precisava de uma dose extra de
afirmação do seu amor.
À primeira vista, parecia um simples caso de demonstrar amor de maneira
diferente. Ann precisava
ouvir
palavras amorosas, enquanto para Bob bastava apenas
ver o rosto sorridente de Ann e
sentir
sua maneira carinhosa de tocá-lo. Muitos casais
têm formas diversas de saber que são amados. Como diz Bob: "Sei que ela me ama pela
forma como ela me olha e me toca. Não sei por que ela deseja ouvir que a amo dez
vezes por dia. Qualquer pessoa pode falar o quê quiser, são as ações que contam". Para
Ann, porém, as palavras de Bob contavam mais do que seus carinhos.
Mesmo achando estranho, Bob se acostumou a dizer a Ann que a amava o dia
inteiro, e isso ajudava bastante. Mas, quando os dois brigavam — como acontece com
todos os casais —, achava difícil dizer que a amava. E, quando o dizia, seu tom de voz
só voltava a ser convincente quando a briga tivesse sido completamente resolvida. Por
isso as discussões eram terríveis para Ann.
Ann concordava que Bob a tocava de maneira carinhosa e tinha muita
consideração com ela. Entretanto, só se sentia amada quando ele dizia que a amava.
"Sinto-me muito bem quando ele me diz que me ama no tom de voz carinhoso que usa.
Sinto-me segura e completa." Ao dizer isso, Ann sorria, seu rosto ficava mais suave e
seus ombros baixavam ligeiramente. "Essa sensação de bem-estar dura algum tempo,
mas depois começa a desaparecer e volto a duvidar."
Essa foi uma informação importante para mim. O problema não estava nos
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diferentes sinais que Ann e Bob usavam para saber que eram amados. O problema era
que para Ann essa sensação não durava muito e parecia deixá-la ainda mais vulnerável.
Quando Bob estava amoroso e dizia que a amava, Ann sentia-se bem, mas e quando ele
não
se sentia apaixonado ou quando não o
dizia!

Autoconceito: como saber quem somos
Muitas pessoas dependem dos outros para se assegurarem de algo que raramente
ou nunca sentem dentro de si mesmas. Quando não nos sentimos capazes, sensuais ou
merecedores de amor, procuramos pessoas que nos digam que somos isso tudo. É
importante desenvolver um sentimento interno dessas qualidades, de forma a não
depender desesperadamente de confirmação externa. Decidi descobrir se isso faria
diferença no caso de Ann.
Perguntei a Ann se ela se achava uma pessoa digna de amor. Ela ficou confusa e
respondeu: "Não se
é
digno de amor! Amor é algo que se
recebe
de outra pessoa".
Sem dúvida, ser digna de amor não fazia parte do autoconceito de Ann, e eu
estava no caminho certo. Se Ann encarasse a capacidade de ser digna de amor como
uma característica
dela,
então as sensações positivas ficariam com ela por mais tempo.
Quando lhe perguntei: "Como seria caso você se achasse digna de amor?", ela
respondeu: "Que coisa estranha!"
Sua resposta era mais uma prova de que ter a capacidade de se achar digna de
amor seria útil para Ann.
Como manter o equilíbrio no relacionamento
Talvez o leitor esteja se perguntando se, ao enfatizar o comportamento de Ann, eu
não estaria partindo do princípio de que o "problema" ou o "erro" era dela. Isso é
importante quando se trabalha com casais. Se o processo de mudança
não
for conduzido
com muito cuidado, um dos dois pode pensar que a "culpa" é sua. Para evitar que isso
acontecesse, conversei com Ann e Bob sobre minha abordagem na terapia de casais.
"Quando duas pessoas se encontram e resolvem viver juntas, parto do princípio de
que cada uma delas tem um conjunto
diferente
de recursos — e é por isso que se sentem
atraídas uma pela outra — e praticamente a mesma
quantidade
de recursos. Cada um de
nós tem áreas em que pode se tornar mais capaz. Quanto mais aproveitamos essas
oportunidades, mais fácil será conseguir o que queremos da vida. Quero deixar claro
que estou disponível para ajudar
ambos
a obter as novas oportunidades que desejam,
para que nenhum de vocês 'fique para trás'. Esta é uma área em que você, Ann, parece
querer ter mais recursos. É isso mesmo? (Ann assente de forma expressiva) E enquanto
trabalho com Ann, gostaria que você, Bob, pensasse na seguinte pergunta: 'Em que
nível desejo ter mais opções neste relacionamento?', de forma a ter certeza de que
também conseguirá o que quer."
Como criar um sentimento duradouro das próprias qualidades
A maneira mais fácil de ajudar Ann a criar uma maneira duradoura de pensar em
si mesma como digna de amor é descobrir como ela faz isto em outras circunstâncias.
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"Ann, existe alguma coisa que, dentro de você, você sabe que é — não importa o
que os outros achem?"
"Bom, eu acho que sou persistente. (...) Inteligente. (...) E sei que sou delicada."
Quando falou em persistência, Ann usou a expressão "eu acho". Por outro lado, ao
falar em ser delicada, ela disse com certeza "eu sei".
"Como sabe que é delicada, Ann? Que tipo de experiência interna lhe dá a certeza
de que é delicada?"
"Quando penso que sou delicada, sinto-me suave e animada."
"Esta é a sensação associada ao fato de ser delicada, mas estou querendo saber
outra coisa. Como
sabe
que é uma pessoa delicada?"
Ann parou um momento. "Bem, eu penso nas vezes em que fui delicada." Ao
fazer isto, olhou para a esquerda e gesticulou rapidamente com a mão esquerda. Para
mim, isso indicava onde ela via suas imagens internas como uma pessoa delicada.
"Muito bem. Como pensa nos momentos em que foi delicada? Você fala consigo
mesma, vê imagens ou sente os movimentos que faz quando está sendo delicada?"
"Bem, vejo imagens de quando fui delicada com alguém." Ann gesticulou de novo
com a mão esquerda. "São várias, uma atrás da outra. São pequenas, mas estão ao
alcance do meu braço."
"Perfeito. Esta é a informação que você tem para saber que é uma pessoa delicada.
Agora, o que acontece à sua percepção de ser uma pessoa delicada quando descobre que
foi indelicada com alguém, sem querer ou por estar irritada?" Ao fazer essa pergunta,
estou tentando descobrir se o seu sentimento de ser uma pessoa delicada é persistente,
mesmo diante de lapsos ocasionais.
"Bem, fico preocupada e faço o possível para esclarecer o mal-entendido, mas
ainda assim sei que sou delicada."
"Ótimo. O fato de você tentar consertar a situação quando foi indelicada é mais
uma prova de que é uma pessoa delicada, não é?"
Ann ficou pensativa. "Nunca havia pensado dessa maneira. Acho que é verdade.
Normalmente, apenas penso nas outras vezes em que fui delicada."
"Teria alguma objeção em pensar em si mesma como uma pessoa digna de ser
amada, da mesma forma em que se vê como uma pessoa delicada?"
"Parece esquisito... Nunca pensei em ser amada dessa maneira. Acho que se
tivesse a mesma sensação de ser amada, não me importaria tanto com o fato de Bob me
dizer que me ama, não é? (...) Não tenho objeção alguma. Pode até ser uma boa idéia."
Enquanto Ann pensava cuidadosamente nas implicações da minha pergunta, não vi
nenhuma indicação não-verbal de objeção. Ela estava simplesmente pensando com
cuidado no que eu dissera.
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"Bem, agora feche os olhos e pense numa situação em que se sentiu amada e
amando, uma ocasião em que criou uma experiência de amar e ser amada. (Ann
concorda.) Agora, coloque esta imagem
no mesmo local
em que estão suas imagens
como uma pessoa delicada. Faça com que a imagem seja exatamente igual às anteriores:
mesmo tamanho, mesma distância etc. (Ann movimenta a cabeça para a esquerda,
indicando que está levando a imagem para o local apropriado, e assente novamente).
Agora pense em outro exemplo de amar e ser amada, talvez com uma outra pessoa ou
numa situação diferente. (Ann assente.) Agora, coloque esta imagem junto com a outra.
Continue fazendo isto até ter uma série de imagens pequenas, uma atrás da outra, ao
alcance do seu braço." Usei de propósito as mesmas palavras que Ann usara
inicialmente para descrever suas imagens como uma pessoa delicada, para ajudá-la a
criar a mesma certeza interna que lhe permitiu saber que é uma pessoa delicada. "Avise,
se precisar de ajuda, ou quando tiver terminado."
Ann passou um ou dois minutos pacientemente colecionando imagens de si
mesma amando e sendo amada e disse "Acabei".
"Abra os olhos. Pareceu que foi tranqüilo. Alguma dúvida?"
"Não. Foi interessante. Primeiro parecia estranho, mas funciona. A cada imagem
que colocava naquele local, sentia-me mais segura. Por alguma razão, pareceu-me mais
fácil
amar
do que ser digna de amor. Tenho mais controle da situação quando estou
demonstrando o meu amor, e de certa forma só posso estar
amando
se for
digna de ser
amada."

"Então, você é uma pessoa que pode amar e é digna de ser amada?" Com esta
pergunta, estou fazendo um teste para saber se a mudança se manteve.
Os olhos de Ann dirigem-se rapidamente para a esquerda. "Sou. Posso ver que
sim." Como sempre, seu comportamento não-verbal — os olhos olhando para a
esquerda e sua voz firme — são indicações mais importantes do que a resposta verbal.
"Daqui a pouco, Bob, quero que diga a Ann que a ama. Ann, quando ele fizer isso,
quero que observe se sua reação mudou. Pode dizer, Bob."
"Ann, eu a amo", ele disse, suavemente.
Ann sorriu, inclinando levemente a cabeça. "É bom ouvi-lo dizer isso, mas é como
se eu já soubesse. É como quando alguém me cumprimenta por um bom trabalho. É
bom saber que outra pessoa notou, mas já sei que o trabalho foi bem feito."
"Ann, agora feche os olhos e imagine-se daqui a três semanas. Durante todo esse
tempo, Bob agiu com você da mesma maneira, só que não disse 'eu a amo' uma única
vez. Como se sente?"
Ann deu um grande sorriso. "É engraçado. Ouvi uma pequena voz lá dentro que
dizia, num tom um pouco zangado: 'É bom que ele diga agora!' Mas era como uma
brincadeira. Sem nenhum problema."
Já se passaram dois anos desde esta sessão, que durou aproximadamente de meia
hora. Tanto Ann como Bob concordam que o problema desapareceu. Ele lhe diz que a
ama algumas vezes na semana, e ela praticamente nunca lhe pergunta. Com a certeza de
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ser amada, Ann não depende mais de Bob para tranqüilizá-la, e eles podem desfrutar
melhor da companhia um do outro. Quando brigam, ainda é desagradável, mas Ann não
se sente mais arrasada e reage de maneira mais adequada.
Como desenvolver uma auto-imagem positiva
Na continuidade de nosso trabalho com Ann e Bob, os ajudamos a fazer outras
mudanças para melhorar seu relacionamento. Neste exemplo, foi Ann quem ganhou
mais opções. Sempre que se trabalha com um casal é importante manter o equilíbrio,
dando novas opções a
ambos,
por várias razões. Se déssemos novas opções apenas a
Ann, Bob poderia concluir que Ann era a parte "problemática" da relação, o que poderia
atrapalhar o desenvolvimento de um melhor relacionamento entre os dois. Outra
conseqüência possível seria Ann se tornar tão capaz de lidar com as situações que, se
Bob não adquirisse novas opções, ela poderia começar a se sentir insatisfeita com ele. A
maioria dos casais percebem rapidamente não só a vantagem que representa para
cada
um
deles obter novas opções, como também o enriquecimento que isto trará ao
relacionamento.
Nem todo mundo tem uma seqüência de auto-imagens colocadas do lado
esquerdo, como Ann, mas todos temos
alguma
forma interna de pensar em nossas
capacidades ou características pessoais. É esta estrutura interna que dá à pessoa um
sentimento permanente de si própria. No caso de Ann, simplesmente construímos uma
representação da qualidade de ser capaz de amar e ser amada que ela não possuía
anteriormente.
Mesmo não sendo tão fácil mudar a auto-imagem como no caso de Ann, o
princípio é sempre o mesmo: descobrir
como
a pessoa pensa a seu respeito e mudar isso
diretamente. Isso já foi feito de maneira eficiente com muitas pessoas que desejam se
sentir dignas de amor, sensuais ou outra coisa qualquer.
A Ann só
faltava
a capacidade de pensar em si mesma como digna de amor.
Algumas pessoas vão mais longe e criam uma representação vivida e completa de si
mesmas como
não
sendo dignas de amor ou
não
sendo outra coisa qualquer. Elas têm
de si uma auto-imagem cheia de fracassos, erros e humilhações. Quer se trate de uma
criança que pressupõe que se sairá mal na escola ou um adulto que acredita que nunca
terá um bom relacionamento, uma "auto-imagem fraca" resulta geralmente num
comportamento autodestrutivo. Neste caso, não se trata apenas de construir uma auto-
imagem mais positiva. Deve-se também modificar essas imagens negativas antes de
criar uma auto-imagem mais positiva e útil. Um método para mudar diretamente crenças
limitadoras encontra-se no capítulo 7 do livro
Usando sua mente,
de Richard Bandler.
Por outro lado, algumas pessoas estão convencidas de que são maravilhosas,
embora ninguém concorde com elas. Essas pessoas têm um autoconceito muito
duradouro — porém inexato e que não corresponde ao que os outros pensam. Uma
pessoa pode pensar que é delicada, mas tem atitudes cruéis sem perceber. Uma outra
pode pensar que sabe contar piadas muito bem, apesar de ninguém rir do que ela diz. O
mesmo processo pode ser usado para ajudar essas pessoas, embora seja um pouco mais
complicado e as pessoas que mais precisam dele geralmente são as que menos se dão
conta do fato!
Quando reconhecemos que temos este problema, podemos inverter o processo
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para
diminuir
nosso autoconceito nessa área. É só descobrir algo do qual
não
estamos
tão convencidos e transformar nossas imagens de contador de piadas, por exemplo,
numa imagem igual a
essa.
Podemos também criar uma maneira de perceber como as
outras pessoas reagem quando estamos sendo "engraçados" ou não.
Nosso autoconceito afeta nosso comportamento de maneira bastante poderosa. A
questão é descobrir como a sua modificação afeta o nosso comportamento e fazer as
correções necessárias para melhorar nossa vida. O fato de saber que
somos dignos de
amor
torna-nos pessoas mais amorosas, receptivas e capazes? Ou faz com que nos
consideremos "príncipes", ignorando totalmente as necessidades de nossos amigos e
familiares? O fato de sabermos que
somos sensuais faz
com que desfrutemos melhor
nossa sexualidade, agindo de forma a agradar nossos companheiros? Ou isso nos leva a
ignorar os desejos de nosso parceiro, causando brigas? Esta percepção interna é útil se
nos ajuda a chegar mais perto do nosso ideal e melhora nossos relacionamentos.
Enquanto trabalhava com Ann, observei-a bem para saber se a mudança lhe daria mais
recursos e se teria um impacto positivo em seu relacionamento com Bob.
Co-dependência
A partir de uma curiosa imagem-invertida, muitas pessoas são dependentes do
fato de
outra pessoa
ser dependente delas. Esse comportamento de "co-dependência" é
muito observado em esposas e filhos de alcoólatras ou outros viciados. Em alguns
casos, o rótulo de "co-dependente" torna a solução do problema ainda mais difícil. Tal
como categorias como "adolescente", "delinqüente" e outras, esse rótulo
pode
fazer com
que um padrão de comportamento que pode ser modificado
pareça
um traço de caráter
inevitável. Nossa experiência nos mostra que, quando entendemos a estrutura de
qualquer dificuldade, incluindo a co-dependência, fica fácil acrescentar novas opções.
No caso de Ann, trabalhamos diretamente com a estrutura mental do seu
autoconceito. Entretanto, é possível fazer o mesmo tipo de mudança de maneira
informal, numa conversa, sem precisar descobrir os detalhes da estrutura mental da
pessoa.
Sarah era uma moça sensível e alegre que detestava ferir os sentimentos dos
outros. Durante grande parte do seu casamento, havia convivido com um marido
alcoólatra. Sarah veio consultar-nos para que a ajudássemos a usufruir melhor sua vida,
ao invés de passar seu tempo ajudando outras pessoas.
"Quero continuar a me relacionar com outras pessoas, mas quero separar minha
vida privada da minha vida social."
"O que a impede de fazer isso agora?"
"Sinto que não posso ferir os sentimentos das pessoas. Elas acabam aparecendo lá
em casa e acho difícil lhes dizer não... Também sei distinguir quem é equilibrado e
quem não é. Quando percebo que alguém consegue cuidar de si mesmo, não me sinto
assim."
"Entendo. Você só faz isso com pessoas fracas e dependentes!", eu disse, meio de
brincadeira, mas seriamente. (Sarah concorda.) Então, são as pessoas que já
são fracas
que você torna mais
dependentes
ainda, não é? (Sarah ri, concorda e coloca a mão no
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peito.) Você não faz isso com as pessoas que sabem cuidar de si mesmas."
"Não."
"Somente com as que não sabem cuidar de si mesmas."
"Isso mesmo!" Sarah ri e concorda.
"Assim, você piora a situação das pessoas que já são dependentes, certo?"...
"Mas não sei como exatamente faço isso."
"Pense nas pessoas a quem feriu no passado, agindo dessa maneira. (...) Quantas
pessoas tornaram-se bajuladoras e hipócritas, totalmente dependentes e incapazes?
Talvez elas
já. fossem
um pouco assim, mas você sem dúvida as tornou piores."
"Também
não
chego a esse ponto!" Sarah riu. "O caso é que há ocasiões em
que..."
"A que ponto chegou?"
(Ainda rindo) "Estou melhorando,
de repente]"

"Então como é que agora você vai respeitar mais essas pessoas, estabelecendo
seus próprios limites... de forma mais respeitosa, de maneira a respeitá-las como seres
humanos, que podem cuidar de si mesmos... ao invés de torná-las ainda mais
dependentes?"...
"Ainda não sei como fazer isso."
"Ainda não sabe como fazer.
Conscientemente,
você ainda não sabe como isso vai
ocorrer."
"Isso mesmo."
"Quantas vezes ainda vai fazer isso, antes de se dar conta da maneira como age?"
(Rindo) "Só mais
uma
vez!"
"Quando examinar a maneira como agia, acha que vai entender como ocorreu a
mudança? (...) Ou acha que será algo intuitivo, que sempre será um mistério para você?"
"Não acho que será sempre um mistério. Aliás, estou percebendo melhor uma das
coisas que faço, qual é a interação."
"Tudo bem. Agora, como é que o fato de uma pessoa se sentir ferida num
determinado momento pode se tornar positivo para ela a longo prazo, tornando-a mais
forte e melhor?" Apesar de ser uma pergunta, disse isto de maneira decidida.
Sarah assente e inspira profundamente. "Já sei! Entendi. Essa é a chave da
questão, que mudava tudo." Sua expressão facial se modificou e ela pareceu mais calma
e relaxada, demonstrando que estava percebendo a situação de modo diferente.
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"Ser boazinha
agora
pode trazer conseqüências nefastas no futuro, pois cria uma
dependência para toda a vida. Muitos pais fazem isso. Tentam ser bonzinhos com os
filhos e criam pessoas que não saberão ser adultas. Pensam que estão sendo bonzinhos,
mas não preparam os filhos para andar com os próprios pés."
(Concordando e rindo) "Não sou boazinha com meus filhos." "Ainda bem que tem
sido uma boa mãe, apesar de não ter sido uma boa amiga para algumas pessoas."
"Difícil.de aceitar, mas é verdade!" "Então já entendeu tudo?" "Com certeza!"
"Ainda bem que está tão segura. Agora quero que pense em uma das piores
pessoas, aquela que cola mais. Quando a imagina daqui para frente, há algo que a faça
se tornar tão desrespeitosa como no passado? Ou terá achado maneiras de se respeitar,
da mesma forma como respeita as outras pessoas como elas são e como elas serão"...
"Uma questão de vida ou morte. Numa situação dessas eu não teria o mínimo respeito
por mim mesma." '"Mas neste caso não seria desrespeito." "Claro. Nesse caso não seria
desrespeito. A situação seria excepcional."
"É claro. Existem ocasiões em que as pessoas realmente
precisam
da nossa ajuda,
e neste caso não se trata de desrespeito. Se alguém acabou de ser atropelado por um
caminhão e está com as duas pernas quebradas, não há nada de desrespeitoso em se
perguntar: 'Posso ajudá-lo a subir na maça?' Não é o momento de dizer: 'Sinto muito,
vai ter de se virar sozinho'. Certo? Agora, se as pernas estiverem perfeitas, seria
desrespeitoso tentar ajudá-lo."
"Perfeito", disse Sarah. "É uma maneira realmente diferente de ver a coisa.
Obrigada."
O ponto principal nesse caso era alargar a estrutura temporal de Sarah, mostrando-
lhe que "ser boazinha" no momento era ruim para a pessoa a longo prazo. Entretanto,
esse comentário só foi válido porque.algo já havia ficado claro anteriormente: o fato de
que ela se apegava à dependência dos outros e causava-lhes mal por torná-los ainda
mais dependentes e menos capazes. "Ser boazinha" é muito importante para Sarah. Em
vez de tentar mudar sua opinião a esse respeito,
usei
esse conceito para levá-la a fazer o
que era melhor para as pessoas a longo prazo, mesmo que no presente elas ficassem
"magoadas". Isto permitiu a Sarah ter uma vida própria, liberando-a da obrigação de
responder aos desejos e necessidades de todo mundo.
Apesar de ser uma mudança importante, Sarah conseguiu fazê-la graças ao que
tinha aprendido em sessões anteriores. Mas ainda havia o que fazer. Depois desse nosso
encontro, ela continuou a progredir em outras áreas da sua vida.
Muitas pessoas que se encontram na situação de Sarah ainda estão reagindo a uma
situação de maus-tratos sofrida no passado (vide capítulo 6), ou sentem-se cheias de
culpa (vide capítulo 13) ou sofrem de baixa auto-estima. No caso de Sarah, e de muitas
pessoas na sua situação, lidar com essas outras áreas é importante para uma solução
completa dos problemas.
Você mesmo: alguém com quem sempre se pode contar
À medida que examinávamos os objetivos de Gail, ela percebeu um problema que
a tornava nervosa e tensa. Tinha muito medo de ser abandonada. Isso a impedia de se
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sentir segura, de se divertir e de agir espontaneamente em muitas situações. Como o
maior medo de Gail era o de perder o marido, começamos por aí.
"O que realmente perderia, se seu marido a abandonasse?", perguntei. Com mais
algumas perguntas, ficou claro que o que mais preocupava Gail, se o marido a
abandonasse, era perder o seu amor. Ao falar dele, e do que achava que sentiria falta
sem ele, Gail sempre olhava para um ponto à sua esquerda.
"Ser amada é muito importante", concordei. "É tão importante que vale a pena ter
certeza de que se é amada. E a maneira de se ter
certeza
disso é conseguir este amor de
alguém que nunca vai deixá-la na mão, e essa pessoa é você!" Gail sorriu. A idéia
realmente lhe agradava.
"Sabe aquele ponto para onde olha quando pensa em seu marido?..." Mostrei o
ponto para onde ela olhava e ela concordou. "Pense como seria se, ao invés de ver seu
marido ali, você se visse dando a si mesma o amor de que precisa. O que acontece
quando se vê dando a si mesma esse amor e gostando de recebê-lo?"
O rosto de Gail ficou mais corado e seus ombros e costas, antes tensos,
começaram a relaxar. <;Gosto disso."
"Talvez deseje trazer a Gail que está ali mais para perto de você... E agora pode
examinar como é entrar na Gail que está dando todo o seu amor e sentir como é ser
aquela Gail capaz de tanto amor... Desfrute a posição onde ela se encontra".
Gail parecia ter ainda mais recursos. "Quero chegar mais perto e abraçar a mim
mesma", disse.
"Ótimo. E quando tiver desfrutado tudo o que quiser, pode voltar para dentro de
você, trazendo consigo todas essas boas sensações que se estendem ao seu redor."
Após esse encontro, Gail disse estar se sentindo mais segura e mais capaz de dar
amor ao marido, ao invés de pensar apenas em receber amor da parte dele.
Uma alternativa para o abandono: dar-se a si mesmo
Muito já foi escrito a respeito da co-dependência, desse excessivo "envolvimento"
que muitas pessoas sentem e o conseqüente medo de serem abandonadas. Se acharmos
que dependemos de alguém para algo essencial, como no caso de Gail, pode ser
assustador pensar na possibilidade de perder essa pessoa. O que precisamos é de um
bom substituto que fortaleça nossa auto-estima, como o que foi oferecido a Gail.
Um de nossos colegas, Robert McDonald, observou em seu trabalho sobre a co-
dependência que muitas pessoas que se queixam desse problema têm, literalmente,
imagens internas de estar fisicamente ligados a um pai, esposo ou outra pessoa
importante. Um homem disse que sentia como se seu pai estivesse ligado a ele pelo
tórax. Uma mulher declarou que a imagem da mãe era pequena e curvada, grudada a ela
do lado direito, como um percevejo. Outras pessoas imaginam um cordão que as liga a
alguém.
Embora isso possa parecer estranho no início, faz muito sentido. A sensação de
dependência, como qualquer outra experiência, tem uma estrutura mental interna.
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Quando duas pessoas são co-dependentes, faz sentido que elas sintam a necessidade de
uma ligação bem próxima. A ligação por meio de um cordão ou do corpo são formas
típicas de se vivenciar a co-dependência.
Se essas pessoas imaginarem que estão se desligando do outro, ficarão com medo
de serem abandonadas. Para atingir aquilo que essas pessoas realmente desejam, Robert
e eu desenvolvemos o processo que relato a seguir. Ele o vem utilizando em seminários
com ótimos resultados.
Como abandonar a co-dependência: religando-se a si mesmo
Em um lugar calmo, onde ninguém exija sua atenção durante uns 15 ou 20
minutos, faça o seguinte, de pé:
1. Identifique o outro. Pense em alguém com quem você julga partilhar uma situação
de co-dependência ou com quem esteja excessivamente envolvido. Na maioria dos
casos, trata-se de um parente ou 11um ente querido. Quer o envolvimento seja muito ou
pouco, você sairá ganhando com este processo.
2. Conscientize-se da sua excessiva ligação com o outro. Imagine que esta pessoa está
na sala com você. Se não conseguir ver nenhuma imagem interna, apenas "sinta" ou
finja que está vendo. Vai funcionar do mesmo jeito. Ande em volta dessa pessoa.
Observe sua aparência. Toque-a para ver como ela é e observe como se sente por estar
na presença dela. Preste especial atenção aos seus sentimentos de estar envolvido em
excesso com essa pessoa. Observe como se sente pelo fato de estar tão ligado a ela. Tem
a sensação de estar ligado a ela fisicamente? Há alguma ligação direta entre seu corpo e
o dela, através de um cordão ou outra coisa qualquer? Observe em que ponto do seu
corpo e do corpo da outra pessoa se dá a ligação. Muita gente sente esta ligação na
altura do estômago, do peito ou da virilha. Sinta o mais completamente possível a
qualidade dessa ligação — qual sua aparência e a sensação que provoca.
3.  Independência temporária. Agora, tente cortar esta ligação por um instante, só para
ver como se sente. Imagine que sua mão é uma navalha, ou simplesmente dissolva a
ligação de outra maneira qualquer... Muitas pessoas não se sentem bem em se separar
neste ponto, e isso é um sinal de que a ligação teve um propósito importante. Não é
necessário se separar agora, pois você só se sentirá confortável quando tiver um
substituto pronto.
4. Descubra os objetivos positivos. Agora pergunte a si mesmo: "O que realmente
desejo desta pessoa que possa me satisfazer?" (...) Então pergunte: "E o que há de
positivo nesta ligação?", até obter uma resposta fundamental, como, por exemplo,
segurança, proteção, amor...
5. Crie o seu ser Evoluído. Agora, volte-se para a sua direita (algumas pessoas
preferem voltar-se para a esquerda) e crie uma imagem tridimensional de você mesmo
depois de ter evoluído bem além de suas capacidades atuais. Esta é um outro você que
está bem à sua frente, que já resolveu todos os problemas que você está enfrentando
agora, que o ama, lhe dá valor, que quer proteger e cuidar de você. Esta é a pessoa que
pode lhe dar tudo aquilo que na etapa 4 você descobriu que realmente deseja. Observe
como ela anda, sua expressão facial, sua voz e o que sente quando ela toca em você. Se
não conseguir "ver" esse Ser tão cheio de recursos, apenas "sinta" como ele é. Algumas
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pessoas sentem um calor ou uma luminosidade ao redor desse Ser.
6. Transforme a ligação com o Outro numa ligação com esse Ser. Volte-se
novamente para o Outro a quem você está ligado. Veja e sinta a ligação. Depois corte a
ligação com o Outro e imediatamente refaça a ligação com o seu Ser. Desfrute a
sensação de estar em interdependência com alguém com quem realmente pode contar:
você. Agradeça a este Ser por estar aqui para ajudar você. Ele é a pessoa que estará
sempre presente, abrindo caminho para você — seu companheiro constante, que estará
sempre junto de você para verificar o que está à sua frente e se certificar de que você
estará seguro.
7. Respeite o Outro. Olhe novamente para o Outro e examine a ligação que foi cortada.
Veja que o Outro também tem a possibilidade de refazer a ligação consigo mesmo. Se o
cordão saiu do umbigo, você o verá indo em direção ao coração. Imagine a ligação
refazendo-se em outro local adequado do corpo do Outro. Se não havia um cordão, você
poderá imaginar o Outro sendo ligado fisicamente ao seu próprio Ser Evoluído, da
mesma forma que você está agora. Isso lhe dará a segurança de que o Outro também
ficará melhor tendo uma consciência maior de si mesmo. Observe como agora você
pode se sentir inteiramente presente na relação com o Outro.
8.  Aumente sua ligação com o seu Ser. Agora volte-se para o seu Ser Evoluído, ao
qual se encontra ligado. Entre literalmente dentro dele, de forma a poder se olhar de
fora. Sinta como é bom ter recursos e poder dar mais a si mesmo. Após desfrutar da
sensação de ser este Ser Evoluído, volte para dentro de si mesmo, trazendo consigo os
recursos que ele possui.
9. Vá para o futuro. Observe como se sente tendo uma nova capacidade de se
relacionar com as pessoas, em bases mais sólidas. Imagine como será o futuro tendo
como companheiro o seu Ser Evoluído. Também poderá observar como este Ser
Evoluído lida com dificuldades.
Não é mágica, mas funciona
Depois dos seminários, Robert recebeu muitas confirmações dos participantes.
Uma mulher que sentia uma ligação de coração a coração com o marido, disse:
"Houve uma mudança definitiva em minha vida. Já não preciso tanto do meu
marido. Antes, eu me sentia abandonada sempre que ele tinha de se ausentar. Meu
coração está cheio de amor, quando antes sentia-me machucada sempre que meu marido
não estava presente. Automaticamente, vejo o meu maravilhoso ser interior luminoso.
Ele aparece sempre que preciso dele".
Becky tinha uma ligação com a mãe. O cordão que as ligava saía de seu lado
esquerdo, subia pela espinha dorsal e estava ligado ao corpo da mãe da mesma maneira.
Depois, Becky observou que essa ligação se repetia da mãe para a avó e assim por
diante, estando todos os cordões ligados no mesmo local. Chamou a isto "o martírio
solitário de ser mulher" na sua família, e disse:
"Foi positivo fazer este exercício. Agora, quando me pego 'dando uma de mãe',
paro. Observo-me fazendo algo como ela e penso: 'Quem está fazendo isto é ela, não
sou eu'. Assim, diariamente reafirmo minha ligação com o meu ser interior. Problemas
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surgem, mas agora tenho opções. Isso não é mágica. Não surgiu do nada. Tenho de ser
responsável por mim mesma diariamente. Mas foi muito importante poder ver aquele
cordão.
"Sempre se soube que na minha família as mulheres tinham um problema de
coluna. Eu também tinha. Ao observar isto, eu disse: 'O problema termina aqui'. O mais
importante foi a compreensão profunda de que o problema de coluna passava de
geração a geração. Não preciso dele. O problema termina aqui, comigo."
Os processos descritos neste capítulo podem nos ajudar a nos tornarmos mais
independentes e mais conscientes de nosso ser. Isto não quer dizer que seremos
solitários. Ao contrário, permite-nos estarmos junto com outras pessoas de uma maneira
respeitosa.
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"Ann, existe alguma coisa que, dentro de você, você sabe que é — não importa o
que os outros achem?"
"Bom, eu acho que sou persistente. (...) Inteligente. (...) E sei que sou delicada."
Quando falou em persistência, Ann usou a expressão "eu acho". Por outro lado, ao
falar em ser delicada, ela disse com certeza "eu sei".
"Como sabe que é delicada, Ann? Que tipo de experiência interna lhe dá a certeza
de que é delicada?"
"Quando penso que sou delicada, sinto-me suave e animada."
"Esta é a sensação associada ao fato de ser delicada, mas estou querendo saber
outra coisa. Como
sabe
que é uma pessoa delicada?"
Ann parou um momento. "Bem, eu penso nas vezes em que fui delicada." Ao
fazer isto, olhou para a esquerda e gesticulou rapidamente com a mão esquerda. Para
mim, isso indicava onde ela via suas imagens internas como uma pessoa delicada.
"Muito bem. Como pensa nos momentos em que foi delicada? Você fala consigo
mesma, vê imagens ou sente os movimentos que faz quando está sendo delicada?"
"Bem, vejo imagens de quando fui delicada com alguém." Ann gesticulou de novo
com a mão esquerda. "São várias, uma atrás da outra. São pequenas, mas estão ao
alcance do meu braço."
"Perfeito. Esta é a informação que você tem para saber que é uma pessoa delicada.
Agora, o que acontece à sua percepção de ser uma pessoa delicada quando descobre que
foi indelicada com alguém, sem querer ou por estar irritada?" Ao fazer essa pergunta,
estou tentando descobrir se o seu sentimento de ser uma pessoa delicada é persistente,
mesmo diante de lapsos ocasionais.
"Bem, fico preocupada e faço o possível para esclarecer o mal-entendido, mas
ainda assim sei que sou delicada."
"Ótimo. O fato de você tentar consertar a situação quando foi indelicada é mais
uma prova de que é uma pessoa delicada, não é?"
Ann ficou pensativa. "Nunca havia pensado dessa maneira. Acho que é verdade.
Normalmente, apenas penso nas outras vezes em que fui delicada."
"Teria alguma objeção em pensar em si mesma como uma pessoa digna de ser
amada, da mesma forma em que se vê como uma pessoa delicada?"
"Parece esquisito... Nunca pensei em ser amada dessa maneira. Acho que se
tivesse a mesma sensação de ser amada, não me importaria tanto com o fato de Bob me
dizer que me ama, não é? (...) Não tenho objeção alguma. Pode até ser uma boa idéia."
Enquanto Ann pensava cuidadosamente nas implicações da minha pergunta, não vi
nenhuma indicação não-verbal de objeção. Ela estava simplesmente pensando com
cuidado no que eu dissera.
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16
"Bem, agora feche os olhos e pense numa situação em que se sentiu amada e
amando, uma ocasião em que criou uma experiência de amar e ser amada. (Ann
concorda.) Agora, coloque esta imagem
no mesmo local
em que estão suas imagens
como uma pessoa delicada. Faça com que a imagem seja exatamente igual às anteriores:
mesmo tamanho, mesma distância etc. (Ann movimenta a cabeça para a esquerda,
indicando que está levando a imagem para o local apropriado, e assente novamente).
Agora pense em outro exemplo de amar e ser amada, talvez com uma outra pessoa ou
numa situação diferente. (Ann assente.) Agora, coloque esta imagem junto com a outra.
Continue fazendo isto até ter uma série de imagens pequenas, uma atrás da outra, ao
alcance do seu braço." Usei de propósito as mesmas palavras que Ann usara
inicialmente para descrever suas imagens como uma pessoa delicada, para ajudá-la a
criar a mesma certeza interna que lhe permitiu saber que é uma pessoa delicada. "Avise,
se precisar de ajuda, ou quando tiver terminado."
Ann passou um ou dois minutos pacientemente colecionando imagens de si
mesma amando e sendo amada e disse "Acabei".
"Abra os olhos. Pareceu que foi tranqüilo. Alguma dúvida?"
"Não. Foi interessante. Primeiro parecia estranho, mas funciona. A cada imagem
que colocava naquele local, sentia-me mais segura. Por alguma razão, pareceu-me mais
fácil
amar
do que ser digna de amor. Tenho mais controle da situação quando estou
demonstrando o meu amor, e de certa forma só posso estar
amando
se for
digna de ser
amada."

"Então, você é uma pessoa que pode amar e é digna de ser amada?" Com esta
pergunta, estou fazendo um teste para saber se a mudança se manteve.
Os olhos de Ann dirigem-se rapidamente para a esquerda. "Sou. Posso ver que
sim." Como sempre, seu comportamento não-verbal — os olhos olhando para a
esquerda e sua voz firme — são indicações mais importantes do que a resposta verbal.
"Daqui a pouco, Bob, quero que diga a Ann que a ama. Ann, quando ele fizer isso,
quero que observe se sua reação mudou. Pode dizer, Bob."
"Ann, eu a amo", ele disse, suavemente.
Ann sorriu, inclinando levemente a cabeça. "É bom ouvi-lo dizer isso, mas é como
se eu já soubesse. É como quando alguém me cumprimenta por um bom trabalho. É
bom saber que outra pessoa notou, mas já sei que o trabalho foi bem feito."
"Ann, agora feche os olhos e imagine-se daqui a três semanas. Durante todo esse
tempo, Bob agiu com você da mesma maneira, só que não disse 'eu a amo' uma única
vez. Como se sente?"
Ann deu um grande sorriso. "É engraçado. Ouvi uma pequena voz lá dentro que
dizia, num tom um pouco zangado: 'É bom que ele diga agora!' Mas era como uma
brincadeira. Sem nenhum problema."
Já se passaram dois anos desde esta sessão, que durou aproximadamente de meia
hora. Tanto Ann como Bob concordam que o problema desapareceu. Ele lhe diz que a
ama algumas vezes na semana, e ela praticamente nunca lhe pergunta. Com a certeza de
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ser amada, Ann não depende mais de Bob para tranqüilizá-la, e eles podem desfrutar
melhor da companhia um do outro. Quando brigam, ainda é desagradável, mas Ann não
se sente mais arrasada e reage de maneira mais adequada.
Como desenvolver uma auto-imagem positiva
Na continuidade de nosso trabalho com Ann e Bob, os ajudamos a fazer outras
mudanças para melhorar seu relacionamento. Neste exemplo, foi Ann quem ganhou
mais opções. Sempre que se trabalha com um casal é importante manter o equilíbrio,
dando novas opções a
ambos,
por várias razões. Se déssemos novas opções apenas a
Ann, Bob poderia concluir que Ann era a parte "problemática" da relação, o que poderia
atrapalhar o desenvolvimento de um melhor relacionamento entre os dois. Outra
conseqüência possível seria Ann se tornar tão capaz de lidar com as situações que, se
Bob não adquirisse novas opções, ela poderia começar a se sentir insatisfeita com ele. A
maioria dos casais percebem rapidamente não só a vantagem que representa para
cada
um
deles obter novas opções, como também o enriquecimento que isto trará ao
relacionamento.
Nem todo mundo tem uma seqüência de auto-imagens colocadas do lado
esquerdo, como Ann, mas todos temos
alguma
forma interna de pensar em nossas
capacidades ou características pessoais. É esta estrutura interna que dá à pessoa um
sentimento permanente de si própria. No caso de Ann, simplesmente construímos uma
representação da qualidade de ser capaz de amar e ser amada que ela não possuía
anteriormente.
Mesmo não sendo tão fácil mudar a auto-imagem como no caso de Ann, o
princípio é sempre o mesmo: descobrir
como
a pessoa pensa a seu respeito e mudar isso
diretamente. Isso já foi feito de maneira eficiente com muitas pessoas que desejam se
sentir dignas de amor, sensuais ou outra coisa qualquer.
A Ann só
faltava
a capacidade de pensar em si mesma como digna de amor.
Algumas pessoas vão mais longe e criam uma representação vivida e completa de si
mesmas como
não
sendo dignas de amor ou
não
sendo outra coisa qualquer. Elas têm
de si uma auto-imagem cheia de fracassos, erros e humilhações. Quer se trate de uma
criança que pressupõe que se sairá mal na escola ou um adulto que acredita que nunca
terá um bom relacionamento, uma "auto-imagem fraca" resulta geralmente num
comportamento autodestrutivo. Neste caso, não se trata apenas de construir uma auto-
imagem mais positiva. Deve-se também modificar essas imagens negativas antes de
criar uma auto-imagem mais positiva e útil. Um método para mudar diretamente crenças
limitadoras encontra-se no capítulo 7 do livro
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Por outro lado, algumas pessoas estão convencidas de que são maravilhosas,
embora ninguém concorde com elas. Essas pessoas têm um autoconceito muito
duradouro — porém inexato e que não corresponde ao que os outros pensam. Uma
pessoa pode pensar que é delicada, mas tem atitudes cruéis sem perceber. Uma outra
pode pensar que sabe contar piadas muito bem, apesar de ninguém rir do que ela diz. O
mesmo processo pode ser usado para ajudar essas pessoas, embora seja um pouco mais
complicado e as pessoas que mais precisam dele geralmente são as que menos se dão
conta do fato!
Quando reconhecemos que temos este problema, podemos inverter o processo
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para
diminuir
nosso autoconceito nessa área. É só descobrir algo do qual
não
estamos
tão convencidos e transformar nossas imagens de contador de piadas, por exemplo,
numa imagem igual a
essa.
Podemos também criar uma maneira de perceber como as
outras pessoas reagem quando estamos sendo "engraçados" ou não.
Nosso autoconceito afeta nosso comportamento de maneira bastante poderosa. A
questão é descobrir como a sua modificação afeta o nosso comportamento e fazer as
correções necessárias para melhorar nossa vida. O fato de saber que
somos dignos de
amor
torna-nos pessoas mais amorosas, receptivas e capazes? Ou faz com que nos
consideremos "príncipes", ignorando totalmente as necessidades de nossos amigos e
familiares? O fato de sabermos que
somos sensuais faz
com que desfrutemos melhor
nossa sexualidade, agindo de forma a agradar nossos companheiros? Ou isso nos leva a
ignorar os desejos de nosso parceiro, causando brigas? Esta percepção interna é útil se
nos ajuda a chegar mais perto do nosso ideal e melhora nossos relacionamentos.
Enquanto trabalhava com Ann, observei-a bem para saber se a mudança lhe daria mais
recursos e se teria um impacto positivo em seu relacionamento com Bob.
Co-dependência
A partir de uma curiosa imagem-invertida, muitas pessoas são dependentes do
fato de
outra pessoa
ser dependente delas. Esse comportamento de "co-dependência" é
muito observado em esposas e filhos de alcoólatras ou outros viciados. Em alguns
casos, o rótulo de "co-dependente" torna a solução do problema ainda mais difícil. Tal
como categorias como "adolescente", "delinqüente" e outras, esse rótulo
pode
fazer com
que um padrão de comportamento que pode ser modificado
pareça
um traço de caráter
inevitável. Nossa experiência nos mostra que, quando entendemos a estrutura de
qualquer dificuldade, incluindo a co-dependência, fica fácil acrescentar novas opções.
No caso de Ann, trabalhamos diretamente com a estrutura mental do seu
autoconceito. Entretanto, é possível fazer o mesmo tipo de mudança de maneira
informal, numa conversa, sem precisar descobrir os detalhes da estrutura mental da
pessoa.
Sarah era uma moça sensível e alegre que detestava ferir os sentimentos dos
outros. Durante grande parte do seu casamento, havia convivido com um marido
alcoólatra. Sarah veio consultar-nos para que a ajudássemos a usufruir melhor sua vida,
ao invés de passar seu tempo ajudando outras pessoas.
"Quero continuar a me relacionar com outras pessoas, mas quero separar minha
vida privada da minha vida social."
"O que a impede de fazer isso agora?"
"Sinto que não posso ferir os sentimentos das pessoas. Elas acabam aparecendo lá
em casa e acho difícil lhes dizer não... Também sei distinguir quem é equilibrado e
quem não é. Quando percebo que alguém consegue cuidar de si mesmo, não me sinto
assim."
"Entendo. Você só faz isso com pessoas fracas e dependentes!", eu disse, meio de
brincadeira, mas seriamente. (Sarah concorda.) Então, são as pessoas que já
são fracas
que você torna mais
dependentes
ainda, não é? (Sarah ri, concorda e coloca a mão no
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peito.) Você não faz isso com as pessoas que sabem cuidar de si mesmas."
"Não."
"Somente com as que não sabem cuidar de si mesmas."
"Isso mesmo!" Sarah ri e concorda.
"Assim, você piora a situação das pessoas que já são dependentes, certo?"...
"Mas não sei como exatamente faço isso."
"Pense nas pessoas a quem feriu no passado, agindo dessa maneira. (...) Quantas
pessoas tornaram-se bajuladoras e hipócritas, totalmente dependentes e incapazes?
Talvez elas
já. fossem
um pouco assim, mas você sem dúvida as tornou piores."
"Também
não
chego a esse ponto!" Sarah riu. "O caso é que há ocasiões em
que..."
"A que ponto chegou?"
(Ainda rindo) "Estou melhorando,
de repente]"

"Então como é que agora você vai respeitar mais essas pessoas, estabelecendo
seus próprios limites... de forma mais respeitosa, de maneira a respeitá-las como seres
humanos, que podem cuidar de si mesmos... ao invés de torná-las ainda mais
dependentes?"...
"Ainda não sei como fazer isso."
"Ainda não sabe como fazer.
Conscientemente,
você ainda não sabe como isso vai
ocorrer."
"Isso mesmo."
"Quantas vezes ainda vai fazer isso, antes de se dar conta da maneira como age?"
(Rindo) "Só mais
uma
vez!"
"Quando examinar a maneira como agia, acha que vai entender como ocorreu a
mudança? (...) Ou acha que será algo intuitivo, que sempre será um mistério para você?"
"Não acho que será sempre um mistério. Aliás, estou percebendo melhor uma das
coisas que faço, qual é a interação."
"Tudo bem. Agora, como é que o fato de uma pessoa se sentir ferida num
determinado momento pode se tornar positivo para ela a longo prazo, tornando-a mais
forte e melhor?" Apesar de ser uma pergunta, disse isto de maneira decidida.
Sarah assente e inspira profundamente. "Já sei! Entendi. Essa é a chave da
questão, que mudava tudo." Sua expressão facial se modificou e ela pareceu mais calma
e relaxada, demonstrando que estava percebendo a situação de modo diferente.
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